AS CIÊNCIAS HUMANAS NAS PROVAS DO ENEM

AS CIÊNCIAS HUMANAS NAS PROVAS DO ENEM

Desde 1998, o Ministério da Educação realiza uma prova que avalia os concluintes da educação básica, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Originalmente, os resultados obtidos no exame tinham como objetivos subsidiar a autoavaliação dos concluintes do ensino médio e certificar os estudantes para programas governamentais (como as bolsas do ProUni, por exemplo) ou para complementar as informações de candidatos a vagas no mercado de trabalho, nas escolas profissionalizantes, nos cursos pós-médio ou universitários.
Diferente dos tradicionais exames vestibulares, o Enem centrava a avaliação nas competências e habilidades desenvolvidas pelos estudantes para relacionar fatos e aplicar conhecimentos escolares na análise e interpretação de situações-problema. Dessa forma, as questões propostas no Enem não eram organizadas a partir dos conteúdos das disciplinas, mas tinham uma abordagem interdisciplinar dos temas do mundo contemporâneo considerados mais relevantes.

Entre as 21 habilidades da matriz de referência do Enem em vigor até 2008, as quatro que estavam mais diretamente relacionadas com os conteúdos estudados pelas ciências humanas eram as habilidades 18, 19, 20 e 21:
18. Valorizar a diversidade dos patrimônios etnoculturais e artísticos, identificando-a em suas manifestações e representações em diferentes sociedades, épocas e lugares;

19. Confrontar interpretações diversas de situações ou fatos de natureza histórico-geográfica, técnico-científica, artístico-cultural ou do cotidiano, comparando diferentes pontos de vista, identificando os pressupostos de cada interpretação e analisando a validade dos argumentos utilizados;
20. Comparar processos de formação socioeconômica, relacionando-os com seu contexto histórico e geográfico;

21. Dado um conjunto de informações sobre uma realidade histórico-geográfica, contextualizar e ordenar os eventos registrados, compreendendo a importância dos fatores sociais, econômicos, políticos ou culturais. (Inep, 1999, p. 9.)
O que havia em comum entre essas habilidades era a capacidade de contextualização tanto de fatos como de interpretações do conhecimento passado e presente e de sua rede de significações. Isso somente é possível se forem estabelecidos canais de comunicação entre os fenômenos em foco, os recortes físico-territoriais e saberes implícitos da bagagem cultural do estudante. Assim, a avaliação pedagógica do desempenho no Enem demonstrou a necessidade de exercitar mais essa capacidade de contextualização com os jovens a partir das diferentes experiências de leitura que as ciências humanas podem propiciar na escola brasileira.

A partir do exame de 2009, o Ministério da Educação anunciou mudanças no exame do Enem. Tendo como base outras experiências de avaliação, como a do Encceja, a mudança mais evidente está no detalhamento da matriz de referência, que passa das 21 habilidades originais para um total de 120, divididas entre as áreas do conhecimento e distribuídas em 30 competências. Além disso, apesar de continuar avaliando as competências e habilidades desenvolvidas pelos jovens, o Enem passa a incluir uma lista de temas, denominados “objetos de estudo”, exigindo mais conteúdos do que nas versões anteriores.

A preocupação explicitada na antiga habilidade 18 continua presente, mas de forma mais detalhada. Assim, a valorização da diversidade do patrimônio cultural passa a ser avaliado em termos da constituição de identidades (competência da área 1), interpretando fontes documentais, analisando a memória coletiva e relacionando as manifestações culturais com processos históricos de média e longa duração.

A antiga habilidade 19 também foi relacionada com a primeira competência da área, reforçando a necessidade de “comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura” (habilidade 4). Ela também é retomada na habilidade 14 – “comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca das instituições sociais, políticas e econômicas”, neste caso visando à avaliação da segunda competência da área (compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de poder).

A antiga habilidade 20 também está presente na nova matriz. Ela será avaliada pela competência 4 da área, que visa compreender os processos de produção e desenvolvimento do conhecimento e da vida social a partir das transformações técnicas e tecnológicas. Assim, no novo Enem, a comparação de diferentes processos de formação socioeconômica irá ocorrer a partir da análise das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial, assim como irá ocorrer na identificação dos significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.

Por fim, a antiga habilidade 21 pode ser identificada na nova matriz quando se tem como referência a avaliação do conhecimento dos estudantes a respeito dos movimentos sociais e das experiências revolucionárias que reordenaram os territórios das nações (competência da área 3).

Vários conteúdos listados nos “objetos de estudo” sempre foram avaliados no Enem. Esse é o caso do pensamento político de diferentes épocas e o ordenamento jurídico dos Estados nacionais, as formas de organização da produção e a importância da Revolução Industrial para a transformação do espaço mundial. No entanto, o maior detalhamento dos conteúdos sinaliza a importância de alguns temas que devem fazer parte da bagagem cultural do jovem brasileiro concluinte da educação básica, como a compreensão da relação da sociedade com a natureza e os impactos ambientais gerados pela sociedade urbano-industrial. A maior importância dada ao domínio da linguagem cartográfica também é um aspecto que chama a atenção na nova versão do exame.
AS CIÊNCIAS HUMANAS NAS PROVAS DO ENEM AS CIÊNCIAS HUMANAS NAS PROVAS DO ENEM Reviewed by Gilvan Fontanailles on junho 17, 2013 Rating: 5

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